quarta-feira, 16 de abril de 2008

Noções equivocadas de marketing

Não existe nada mais frustrante para os
profissionais de marketing do que ver o
quanto, no Brasil, o termo é pouco compreendido,
apesar de amplamente utilizado.
Para muitas pessoas, marketing ainda está
associado a “enrolação” ou enganação.
Isso se deve a uma série de razões. Dentre outras,
estão o contexto histórico em
que o marketing foi introduzido no Brasil,
quando a economia era protegida da
concorrência externa; a sua utilização
para a venda de produtos com qualidade
inferior; e a sua aplicação em campanhas
políticas de candidatos com reputação
duvidosa. Como resultado, fala-se de
marketing em tom pejorativo, expresso em
frases como: “Tal produto não presta, é só
marketing”, ou “O candidato tal é
fruto do marketing”.
Isso se deve, também, à confusão que se
faz entre Marketing, Publicidade, Propaganda
ou Vendas. Ou, ainda, por se acreditar que um
produto sem qualidade necessita
obrigatoriamente da utilização de marketing
para ser colocado no mercado, enquanto
aqueles que são realmente bons não têm
por que utilizá-lo. Quanto equívoco!


Marketing nada mais é do que o ato de conhecer o
mercado de atuação de uma organização, para
posteriormente oferecer, de forma inovadora e criativa,
os produtos e serviços que esse mercado deseja, ou, como
diz Raimar Richers, um famoso professor da área e
reconhecido propagador do tema: “Marketing é entender
e atender clientes”.
Se marketing é algo tão simples, por que as pessoas
utilizam o termo de forma equivocada, confundem e
denigrem sua imagem? Por que os empresários não o
utilizam para fazer suas organizações crescerem?
O emprego do marketing exige que exista um mercado
competitivo para justificar o investimento. Esta não era, e
ainda não é, a realidade de muitos setores no Brasil, onde
impera a falta de competitividade. Não houve tempo, ainda,
para que empresas verdadeiramente preparadas ganhem
seu espaço em relação a empresas com forma de gestão
tradicional mas com grande capital, adquirido em muitos
anos de um mercado protegido pelo governo.
É extremamente tentador utilizar-se das ferramentas de
marketing, principalmente as ligadas à área de comunicação
e promoção, apenas como forma de incrementar vendas,
sem aplicar o conceito completo de marketing. Porém, adotar
todo o processo implicaria direcionar a empresa para a
satisfação das necessidades e desejos dos clientes, deixando
de lado velhas práticas, como o repasse de aumento de
preços ou a popularmente chamada “empurrologia”, que
consiste em fazer com que os clientes comprem os seus
produtos a todo custo. Estas mudanças representariam, além
de investimentos, uma alteração na forma de gerir os
negócios, o que, para uma boa parte do empresariado, pode
significar um grande sacrifício.

Opiniões Distorcidas
É comum consultores e executivos de marketing, em
sua atuação profissional, perceberem que empresários
desejam aplicar algumas ferramentas de marketing para
aumentar suas vendas, mas sem alterar seus produtos ou
serviços e, principalmente, suas margens de lucro. Por
outro lado, grandes corporações, especialmente as
internacionais, têm se utilizado desses conceitos em toda
a sua amplitude, indo desde a concepção do produto até
as mudanças necessárias no decorrer do seu “ciclo de
vida”. As chamadas Grandes Corporações tomam essa
posição em conseqüência da forte competitividade que
enfrentam, realidade que vivenciam há muitos anos em
diversos países do mundo.
Mesmo assim, opiniões distorcidas sobre o marketing
e suas possibilidades ainda persistem. Candidatos a cargos
eletivos, tal qual empresários (aliás, muitas vezes eles são
as mesmas pessoas), utilizam-se do chamado marketing
político, na realidade ferramentas de promoção e
comunicação, para terem seus nomes lembrados no
momento das eleições, mesmo não sendo pessoas,
digamos assim, “perfeitas” para assumir cargos públicos.
Dessa forma, considerando a amplitude e o tempo
dedicado à política partidária neste país, a sua repercussão
e a importância dada ao tema, surgem expressões como:
“O político Fulano de Tal não é uma pessoa que mereça
o voto da população; ele é só marketing!”
Um bom trabalho de propaganda impulsiona a venda
de um produto ou até mesmo a de um candidato que não
seja exatamente o desejado pelo consumidor. Contudo,
uma campanha publicitária sem o respaldo de um produto
com real qualidade terá vida curta.

Conceitos Básicos
Afirmar que marketing “é isto ou aquilo” de nada
adianta se não forem aplicados os seus conceitos básicos,
o que significa inicialmente conhecer com detalhes o seu
mercado de atuação e, a partir daí, tomar ações sobre ele.
Por que tentar fazer com que pessoas comprem os seus
produtos se a qualidade é inferior à esperada, ou se estes
produtos têm estruturalmente algo que não é do desejo
dos clientes? Uma vez detectado o problema ou comparado
o produto com aquele oferecido pela concorrência, o
cliente, fatalmente, deixará de adquiri-lo de sua empresa.
Os empresários devem utilizar as várias ferramentas de
marketing, como: Pesquisas de Mercado, Desenvolvimento de Produtos, Estratégias de Lançamento, Logística de
Distribuição e Vendas, Promoção, Merchandising,
Propaganda, Publicidade e Pós-Venda. Devem, porém, e
acima de tudo, guiar-se com a seguinte premissa básica:
você não vende o que você tem e gosta de vender, mas o
que as pessoas desejam comprar!
Mais do que simplesmente aplicar ferramentas, o
empresariado precisa empregar os conceitos do marketing
e procurar atender o melhor possível seus clientes.
Empreendimentos, produtos e serviços tornam-se
verdadeiros fracassos por se descartar um componente
essencial nos negócios – o cliente. Milhões de reais são
desperdiçados por não se fazerem verdadeiros business
plans, considerando os conceitos de marketing na sua
concepção. Depois de realizados, ou melhor, malidealizados,
busca-se desesperadamente, nas ferramentas
de marketing, sua tábua de salvação.
Marketing não constitui um salva-vidas para produtos
ou serviços malconcebidos. Ele tem um caráter muito mais
filosófico do que operacional, podendo inclusive ser
descartado por empresas que não têm nenhum contato
com o consumidor final, mas é fundamental para aquelas
que têm no chamado mercado do consumidor final seu
core business.

Desafio para os profissionais
Empresários mais preocupados com uma visão interna
do que externa, olhando muito mais para os problemas da
empresa do que para os desejos e necessidades dos consumidores não terão empresas orientadas para o
marketing. Dessa forma, teremos cada vez mais empresas
distantes da realidade dos clientes, procurando vender
principalmente aquilo que lhes convém e obtendo retorno
num curtíssimo espaço de tempo, sem nenhuma
longevidade para os seus negócios. Enquanto a situação
for cômoda para empresários que pensam desse modo,
teremos o marketing sendo visto de forma equivocada.
São divulgados diariamente, em todos os veículos de
comunicação, artigos e reportagens sobre marketing,
quando na verdade estão tratando unicamente de
estratégias de comunicação, o que leva a opinião pública
a ter uma visão distorcida dos conceitos de marketing
aplicados aos negócios e às organizações.
A responsabilidade de reverter essa situação é
principalmente dos profissionais da área, muitos dos quais,
porém, nada fazem para que isto aconteça. Não passam de
“marketeiros”, que buscam apenas não perder o glamour
da profissão, preocupando-se especialmente em estar na
mídia e manter-se em evidência. Enquanto isso continuar
ocorrendo no Brasil, veremos desperdiçada uma ferramenta
importantíssima para o desenvolvimento das empresas.

Fonte: http://douglaszela.com.br

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